A medicação

A medicação

2 de abril de 2018 2 Por jugomes

Como na semana passada comecei a tomar a minha medicação, tenho alguns assuntos relacionados a isso para tratar.

O primeiro deles é o fato de haver um programa do governo que faz a distribuição gratuita desse medicamento e de outros de alta complexidade que são extremamente caros. Estou falando no meu caso de um valor que sairia por volta de 7 mil reais por mês. Tem medicamentos para outras doenças até mais caros do que isso. Então, é claro que sem esse suporte do SUS, seria impossível para mim e para muitos realizar um tratamento adequadamente.

O procedimento para recebê-lo é simples, meu médico me entregou a papelada já pronta para eu dar entrada no processo junto à RIOFARMES – Farmácia Estadual de Medicamentos Especiais. O local é super acessível, tem uma estação do metrô na porta e é perto da Av. Presidente Vargas onde passam muitos ônibus vindos de todos os cantos do RJ. O primeiro passo é só deixar essa papelada e aguardar a resposta. Dei entrada no dia 07/03 e a resposta saiu no dia 26/03. No dia marcado levei um isopor e gelo, pois se fosse deferido meu processo eu já levaria os remédios que devem permanecer refrigerados. Um detalhe, como brasileiro não é bobo nem nada tem uma barraquinha na porta vendendo gelo e isopor para quem for até lá desprevenido. Galera não perde tempo! Rsrsrsrs…

 

Apesar de ter muita gente para ser atendida, o sistema é muito organizado. Nas primeiras idas, quando se faz o cadastro inicial e depois para receber a resposta, a gente espera um pouco, mas não é nada demais. Como meu processo foi deferido, já pude receber a primeira leva com as doses para o primeiro mês. A próxima retirada já está com dia e hora marcada, então acho que, como vai ser com hora certinha, não vou ter que esperar e assim será no mês seguinte também. Sé depois que completarem 3 meses eu terei que levar novamente a receita médica para uma nova rodada de mais 3 meses. Acredito que isso seja necessário para que a pessoa não fique sem o devido acompanhamento do médico.

 

A Riofarmes é da Secretaria Estadual de Saúde e quando a gente pensa que esse sistema está sendo gerido com o estado do Rio de Janeiro do jeito que está, sem pagar direito seus funcionários, fica até surpreso de ver que tudo está funcionando muito bem. Que continue assim se não, como eu disse, meu tratamento ficaria inviável. Só tenho elogios e gostaria de aproveitar para parabenizar a todos que mantêm o SUS vivo, apesar de tanta gente torcer contra. Quero também reforçar a importância da gente lutar por um sistema público de saúde cada vez mais forte.

O segundo tema que gostaria de abordar é sobre o medicamento em si. A esclerose múltipla não tem cura, mas existem drogas que fazem um controle da evolução da doença, minimizando os efeitos ou até evitando que a pessoa tenha novos surtos.

Para entender melhor como esses tipos de droga funcionam, primeiro é preciso saber o que é e como age a esclerose múltipla, ou EM para os íntimos. Não sou médica e ainda estou aprendendo sobre a doença, mas, de forma bastante resumida, pode-se dizer que a EM é uma doença autoimune e isso significa que os anticorpos que têm a função de atacar ameaças externas como vírus e bactérias que poderiam causar doenças, acabam atacando o próprio organismo. É como se o exército que defende um país se rebelasse e passasse a atacar o próprio território. No caso da EM o ataque é direcionado à bainha de mielina, uma capa protetora das células nervosas. Ela atua como se fosse o isolamento de um fio elétrico que, quando danificada, impede que os sinais nervosos cheguem ao destino corretamente. Por isso, os principais sintomas são dormências, fraqueza muscular, paralisia, falta de coordenação motora, cegueira, entre muitos outros. Cada pessoa tem uma resposta e uma gravidade diferente. Em geral, a doença se apresenta em surtos que aparecem e somem repentinamente, via de regra, com gravidade progressiva.

 

esclerose

Fonte: https://goo.gl/ZowVt1

Os medicamentos utilizados para controlar o aparecimento e a evolução dos surtos podem ser do tipo que ampliam ou induzem a atuação do sistema imunológico (imunomoduladores) ou os que reduzem ou suprimem a resposta imunológica do organismo (imunossupressores).

No meu caso, a medicação escolhida é o Copaxone (Acetato de Glatirâmer), um medicamento do tipo imunomodulador. São injeções diárias de uma cadeia de aminoácidos que simulam a mesma estrutura da bainha de mielina que a EM ataca. Assim, ele atua como um chamariz para que os linfócitos ataquem essa substância colocada artificialmente no meu organismo, ao invés de atacar a mim mesma. Eu digo que é uma “pegadinha do malando”! rsrsrsrs… Achei essa solução fantástica. Apesar da chatice de tomar uma injeção diária, os efeitos colaterais são muito menores do que os das terapias imunossupressoras, que são em geral utilizadas nos casos mais graves.

Os imunossupressores são medicamentos utilizados quando a pessoa sofre um transplante e necessita que seu sistema imunológico seja reprimido para que o novo órgão não seja rejeitado. No caso da EM, é a mesma lógica, esses remédios agem para que os linfócitos parem de agir contra o próprio organismo. Acredito que esse tipo de medicamento seja bem mais agressivo e, portanto, com consequências mais intensas para o paciente.

Em linhas gerais, espero ter conseguido explicar, mesmo que de forma simples, tanto como a doença quanto como os medicamentos funcionam. Como disse num post anterior, dei muita sorte de ter descoberto cedo e com quase nenhuma sequela, o que possibilitou com que o tratamento seja mais preventivo do que reparador.

Agora é ter disciplina e paciência para as aplicações diárias e torcer para que seja o suficiente para o controle da doença. Num próximo post vou mostrar o material que recebi do laboratório que fabrica o remédio pois achei muito legal todo o suporte que eles dão aos pacientes.